Felippe Santos

Velho Chico

Velho Chico

(Por Felippe Santos)

 

 

Na cadeira no canto da cozinha,

Velho Chico sentava e se punha a escrever.

Entre versos sua voz se aninha,

Histórias de quem sabia viver.

 

Homem negro de mão calejada,

Do tempo do café guardava a lição.

Mas contava com alma encantada

Seus versos de fé e de coração.

 

Um viúvo marcado de saudade

Negro simples , um tanto cansado,

Com seu velho pandeiro guardava verdades,

Segredos de um tempo passado.

 

Não falava da dor sofrida,

Nem da chibata que o feriu,

Preferia cantar e escrever a vida,

Com a alegria que nunca sumiu.

 

Para as crianças contava, sereno,

Com todo amor e ternura sem fim ,

As mais belas histórias de um mundo pequeno,

Que as faziam sorrir do inicio ao fim.

 

Mas os anos ligeiros passaram,

E os pequenos cresceram também.

Velho Chico partiu,

Deixando suas memórias no coração de alguém.

 

Hoje ninguém mais quer sentar na sala,

Nem prosear ao som de um pandeiro.

É preciso resgatar a fala

Dos avós do saber verdadeiro.

 

Velho Chico foi resistência,

Foi história, foi canção.

Ele deixou a poesia na sua ausência,

Marcando  eternamente  uma geração.