Luana Santahelena

Manual de Instruções para Viver Fora da Caixa (que nunca existiu)

A vida melhorou no dia em que parei

de tentar ser “normal” —

(uma palavra que soa como um terno apertado

num domingo de sol).

 

Passei a tomar café em xícaras desencontradas,

falar sozinha com o espelho (que responde, viu?),

e vestir combinações cromáticas

que fariam qualquer catálogo chorar.

 

De repente, ser “esquisita” virou

meu superpoder secreto.

Não voo, mas tropeço com elegância.

Não salvo o mundo,

mas dou conselhos indecisos com afeto.

(E às vezes, rimados.)

 

O que é ser normal, afinal?

Um molde invisível?

Um condomínio de comportamentos padronizados,

onde cada alma tem que sorrir igual?

 

Fiz as pazes com minhas contradições:

sou introspectiva com tendências performáticas,

amo o silêncio mas falo dormindo,

sou toda racional… até me apaixonar.

 

E olha só — o mundo ainda está girando!

O sol não pediu demissão,

os gatos continuam dormindo em posição de filosofia,

e os dias seguem desfilando suas esquisitices discretas,

como se também tivessem desistido

de fingir normalidade.

 

Descobri que ser diferente

é como usar chapéu em dia nublado:

ninguém entende, mas todo mundo olha.

E às vezes, sorri.

 

Hoje, sou só eu.

Meio verso, meio vírgula,

entre a genialidade das ideias

e a bagunça das gavetas.

 

Mas inteira.

Sem manual.

Com alguma poesia

e a decoração criativa da existência

pendurada nas paredes da alma.