Luana Santahelena

Reticências em Forma de Você

Tem gente que chega igual música chiclete:

gruda no pensamento

e vira trilha sonora até do silêncio.

Você foi desses —

entrou na minha vida sem tirar os sapatos,

bagunçou minhas certezas

e ainda me fez rimar

sem querer.

 

Eu, que andava tão certinha

com minhas listas e calendários,

virei personagem de uma história

que nem eu teria coragem de escrever.

Drama virando comédia romântica,

lágrima virando gargalhada,

e eu…

virando alguém que acorda com saudade

de um sonho que nem sonhou ainda.

 

Antes de você,

meus dias eram vírgulas mal colocadas,

parágrafos longos demais

sobre nada em especial.

Agora, cada gesto teu

é uma metáfora que me rouba o fôlego,

um ponto de exclamação

na rotina das reticências.

 

Você me virou do avesso —

e foi aí que me encontrei.

Descobri que também sei ser leve,

também posso tropeçar no próprio riso,

e deixar cair um “eu te quero”

no meio de um diálogo interno.

 

Se isso não for amor,

então é roteiro de série da Netflix,

com você entrando na segunda temporada

pra salvar a audiência da minha vida.

Só sei que sem você,

tudo voltava a ser

enrolação,

texto truncado,

e coração em modo rascunho.

 

Agora, sou autora dessa loucura linda,

com direito a reescritas,

beijos entre parênteses,

e um final feliz em construção.

 

— E você, claro,

grudado em cada estrofe,

feito refrão que se recusa a ir embora.