Na cozinha da infância, tudo era festa,
com mãe de avental e alma de orquestra.
O cheiro subia, dançava no ar,
biscoito frito começava a cantar.
O café borbulhava em tom de carinho,
chá de erva-doce traçava o caminho.
E o leite fervido, quase em rebelião,
desenhava nuvens no fogão do coração.
Tempero de mãe não se compra, não se ensina,
é pitada de riso, abraço e rotina.
Um toque de olho, uma colher de afeto,
e pronto: o almoço vira um manifesto.
Arroz soltinho com alho dourado,
feijão encorpado, bem temperado.
Farofa crocante, cheirinho de bacon,
e o frango na panela, que nunca dá erro.
Pão de queijo quentinho, saindo do forno,
com gosto de abraço e cheiro de outono.
Mingau de milho raspado da panela,
brigadeiro de colher, festa singela.
O bolo assando é surpresa da tarde,
com cheiro que abraça e fica comigo.
E mesmo distante, a lembrança é fiel:
saliva a saudade, feito caramelo.
Ah, comida de mãe — poema servido,
em prato de amor, bem colorido.
Quem prova uma vez, guarda no coração,
porque mãe cozinha com pura emoção.