Arthur Mello Noos

Manisfesto do desencanto

Houve tempos em que eu buscava a perfeição.
Chafurdei em decepções, acumulei desesperança.
Cavei fundo minha caverna e adormeci.
Não tenho a intenção de retornar a correr pela vida;
As emoções sempre morrem em pequenos vazamentos.

Vivo nas regravações onde ainda existe algo de mágico.
Ao beber da fonte do saber, o despertar nos acolhe e, ao mesmo tempo, castiga.
Não sou mais quem eu pretendia ser.
Existo como um repositório de ideias, sem moedas de amor.
Vivo, embora já não movimente o ar nem cause impressões,
Sou apenas um penhasco sem fim, com mensagens e ideias que não propago.

Enquanto mostram um mundo perfeito que não existe,
Mercadorias falantes expostas com rótulos mentirosos,
Mentalidades construídas pela ilusão da satisfação plena, tendenciosa,
O melhor esconderijo para este existir apocalíptico
É recolher-me no casulo da minha própria mente.

 

Arthur de Mello Noos