Nasci no século errado, talvez.
Minha alma veste rendas,
fala com gentileza,
e acredita que promessas têm peso.
Enquanto o mundo corre,
eu caminho.
Enquanto gritam,
eu escuto.
Vejo beleza em cartas escritas à mão,
em olhares que pedem permissão,
em silêncios que dizem mais
do que mil notificações.
Estimo valores que o tempo levou:
a honra sem plateia,
a palavra como contrato,
o respeito sem exigência.
Não entendo o riso da zombaria,
nem a pressa de julgar.
Prefiro o tempo das entrelinhas,
dos gestos sutis,
do amor que não precisa provar.
Sou feita de saudade do que não vivi,
de memórias herdadas,
de histórias que o mundo esqueceu.
Mas sigo aqui,
como quem acende uma vela
num tempo de luzes artificiais.
Porque mesmo fora de época,
a essência não caduca.
E há beleza em ser
antiga num mundo
que se esqueceu de sentir.