Houve uma época
em que se podia escrever sobre a mesa.
A poeira era vermelha
e caía com leveza.
Nas tardes, ecoavam
cantos de pássaros,
gritos de meninos,
vários tons, mesmo compasso.
Brincadeiras, ah!...
Pega-pega, gude, pião,
mãe da rua, pique-salve,
esconde-esconde, pega-ladrão.
A poeira vermelha sumiu,
aprisionada sob o asfalto.
A terra já não sente a chuva,
não há mais cheiro de mato.
Houve uma época
em que se podia escrever sobre a mesa.
A poeira era vermelha,
a liberdade, uma beleza.
Em meio ao caos,
pendendo da varanda, está
uma flor de plástico, sem odor,
entre a cambacica e o beija-flor.