Cresci em silêncio,
na infância dos que aprendem cedo
que sonhar é perigoso demais.
Formava planos
com a precisão de quem já sabia:
não iriam acontecer.
Um, dois, três…
e o susto vinha,
como um eco do invisível.
Fechava os olhos
e caía de novo
no meu mundo imaginário.
Mas…
e se nunca foi imaginário?
E se eu apenas enxergava o futuro
antes que ele chegasse?
A única certeza que me pertencia.
O vazio me habitava como hóspede
às vezes saía,
mas sempre voltava.
Talvez fosse eterno.
Ou talvez, só mais um visitante
com chave da casa.
Quis ser o talvez.
Essa figura etérea,
cheia de possibilidades,
mas livre da obrigação de ser.
Ser idealizada.
E depois —
não ser.
Engraçado…
os meus talvez
sempre tiveram certezas escondidas.
E mesmo assim,
nunca aprendi a dizer sim ou não.
No meu mundo,
as respostas vêm em pares.
Escolher é abrir mão,
e eu sempre fui metade de tudo.
Até que —
em um par de olhos castanhos,
eu vi.
Não entrei.
Não hesitei.
Eu disse.
“Sim. É você.”
E o talvez se desfez.
Sumiu da minha boca
como poeira no vento.
A certeza tomou forma
em carne, gesto, presença.
Aqueles olhos…
eles me juraram
que a realidade não era delírio,
que o meu mundo inventado
sempre esteve prestes a nascer.
Mas então…
acordei.
O sim evaporou.
Os olhos eram lembrança.
A certeza virou dúvida.
E o talvez —
voltou,
sentou-se à minha frente
e me olhou nos olhos.
Estou aqui de novo,
com a alma entre parênteses,
vivendo essa dança circular
entre o que pode ser
e o que nunca foi.
Sonhando com o talvez.