Acordei num sábado com a ideia firme:
hoje eu amadureço.
Separei roupa sem estampa,
li dois parágrafos de um livro cabeçudo
e joguei fora três paixonites mofadas.
No espelho, tentei fazer cara de adulta.
Mas minha franja rebelde riu de mim.
Fui ao mercado comprar quinoa,
mas acabei com sorvete, vinho e
um cacto que chamei de Epaminondas.
No meio da tentativa de almoço saudável,
queimei o arroz,
fiz miojo
e liguei pra minha mãe perguntando se ter planta conta como estabilidade emocional.
À tarde, organizei minhas metas
em um planner que só uso no dia da compra.
Assinei terapia, desassinei.
Dei like em frases motivacionais,
e chorei vendo desenho animado.
No fim do dia,
de pijama e purpurina do carnaval passado ainda na sobrancelha,
concluí:
se a maturidade quiser me encontrar,
que venha de chinelo e traga pizza.