Carlos Lucena

A INVERSÃO

A INVERSÃO 

Mesmo com este olhar sensível 
Donde brota um olhar tão carinhoso
Aqui neste sono inatingível 
Posso sentir a doçura do teu beijo vigoroso.

Diante dessa prisão inconsolável 
Nesta inversão onde o retorno não se faz
E neste  princípio e fim inviolável
O segredo não se revela nem se desfaz.

E neste mistério no qual vou envolvido
Donde agora o cirro está nublado
Vai-se o peito dado por vencido
E o coração num pálio transportado.

E a  Lua Branca já agora é invisível 
Pois a retina tal como porta foi fechada
E as pálpebras descansando, sono terrível
Encobre a pupila dilatada.

E assim como um poema se encerra
Tecido em versos as estrofes factuais
Como o grão engolido pela terra
São apenas estranhezas 
E transgressões absurdas e surreais!