Anna Gonçalves

Sei lá, não sei...

Não sei o que sou quando o corpo é um caos,  

quando os dedos tremem e as palavras fogem junto com as ideias 

são delírios que roçam a parede do peito,  

são os piscares dos olhos repetitivo e rápido, 

são suspiros sem significado e fim,

são gritos sem boca, são  mordidas nos lábios sem nome e codinome.  

 

Mas eis que o ônibus avança,  

e a janela é um espelho de mundo.  

Os prédios e casas escorrem, as luzes se alongam,  e de repente, tudo é quieto.  

 

O que era nó desata-se sozinho,  

o que era espinho vira linha.  

Cada rosto alheio é um destino alheio,  

e eu, passageiro, descubro o meu.  

 

Talvez a salvação seja isto...

Estar entre estranhos que não pedem nada,  

enquanto a paisagem lá fora  

faz sua caminhada 

me ensina a ser estrada.