Sezar Kosta

O REFÚGIO DA ALEGRIA

Há um instante invisível

em que o riso se esconde,

como pássaro que abandona o galho antes do sol nascer.

 

Nesse instante,

o olhar, que antes colhia milagres nos gestos simples,

fecha-se como flor noturna,

e a vida, ainda plena, pesa silenciosa nos bolsos da alma.

 

Os pés esquecem o compasso da dança na chuva,

as mãos o gesto de brincar com a água,

o coração o perfume que o vento carrega pelo quintal.

 

Ainda assim, tudo pulsa:

a maçã cintila na fruteira,

o rastro de luz atravessa a cortina,

uma gargalhada antiga ecoa entre paredes esquecidas.

 

Basta abaixar-se, ouvir o sussurro das formigas,

provar o calor simples do pão recém-assado,

conversar com as horas como se fossem velhos amigos.

 

E então se percebe:

a alegria nunca partiu.

Ela habita os olhos que ainda sabem brincar,

o coração que escolhe se abrir

e o tempo que nos convida a redescobrir o milagre do simples.