Rebecaa

Entre o raso e o fundo

 

É como se eu estivesse nadando
na superfície de um mar que parece raso,
mas é mais fundo do que eu esperava.
Acho que não deveria adentrá-lo;
tenho temor de me afogar.

E, afinal, eu quero mesmo me aprofundar?
Não quero deixar o mar agitado...
Já nadei por muitos mares inquietos,
como uma água fervente:
mantinha o fôlego,
mas também me faltava ar.

Gosto de nadar pela superfície serena,
mas a integridade me prende ao raso.
Quero saber quais animais habitam nele,
quais plantas, quais peixes...
Mas nado pelo raso com receio;
então, por que me arriscaria na armadilha dos peixes?

E se a correnteza me prender ao fundo?
Não há como sair ileso.
A cada dia que passa nesse raso,
sinto vontade de ir em direção ao fundo
e me afogar.

Eu deveria sair da superfície
e ir para a areia,
mas o raso me acalma,
e a areia me machuca.

O sol arde nos meus olhos,
os gritos perfuram meus ouvidos.
Mas, quando estou no mar,
tudo parece suportável.