Nelson de Medeiros

ENTRE O SONO E O DESEJO

ENTRE O SONO E O DESEJO

No limiar da noite, ela surgia,
e vinha envolta em véus de claridade;
seus olhos, dois abismos de saudade,
tinham a cor da dor que não se esfria!

 

Jamais tocada, sempre se esvaía,
na dança lenta da minha ansiedade;
mas sumia, ao toque da verdade,
como a bruma que o sol desfaz ao dia!

 

Então, já no fim da madrugada, volta
e me sussurra um verso derradeiro:

“— O amor é sonho imortal e constante”!

 

Então desperto só, mas sem revolta,
com seu perfume preso ao travesseiro,
 cheio de esperança daquele instante!

                                                                                                    Nelson de Medeiros