Buenofernandes

A Brisa que me nomeia tem nome e endereço

Capítulo I — A Brisa que me nomeia

A brisa sussurrou meu nome, com a doçura do engenho.

Eu, que sou vento, achei graça no enunciado.

Algo escondido que ninguém sabe,

a não ser os colegas de escola, na infância presente.

Capítulo II — Fogo e Névoa

A Hora da Estrela, escrita com fogo e névoa.

queimou o silêncio, sabe-se lá de quem!

De quem queria morar nos olhos de quem a lê.

Virou chama que não se consome,

Arde em desejos profanos.

Capítulo III — O mar que me escuta

No barulho do papel de seda

que embala o doce de mel,

Ao ser desembrulhado e degustado

Gruda no céu da boca.

Há um mar dentro de mim, sem limite.

Ele ouve até o não dito.

Suas ondas são palavras surdas,

e mesmo assim, me entende.

Capítulo IV — Flor que nasce no jardim do vizinho

Existem dias que florescemos no muro de alguém.

O sol invade as frestas dos buracos

Procura no olhar o carinho e ternura.

Baga aberta, dispersa semente.Pede solo.

Quer ser vista, sem cercas.

Capítulo V — A noite que não dorme

Sou o impensado, o que sinto,

em noites mal dormidas.

A insônia, que vagueia em luar.

Tropeço na memória,

Velas navegadoras de saudades.

Capítulo VI — O cheiro do Jasmineiro

Hoje, não sou verbo, mas   fragrância.

Um Leite de Rosas, derramado na madeira,

Lembrança de momentos vividos.

Uma anágua, em saia de prega.

O brilho exalado de um vestido velho.