Teu amor repousa sobre um retrato
não sobre mim, mas sobre um molde abstrato.
Ignoras a essência que pulsa nua sem disfarces
e adoras a máscara criada por teu pincel.
Meus ideais não cabem no seu enquadramento:
são pontes longas, sem atalhos, sem cimento.
Minha ética te inquieta, te causa desconforto,
pois exige clareza, não fumaça em versos trêmulos.
Sopras ilusões com perfume de verdade
e buscas aplausos no teatro cruel do julgamento.
Mas não há verdade no eco de te cerca,
apenas vozes famintas por histórias inventadas.
Inventar é poder, mas amar é existir.
E quem não existe, se molda, se disfarça, inventa.
Eu sou o que sou: inteira, imperfeita, real.
Tu amas apenas o que nunca respirou,
o que nunca foi humano o bastante para sentir.