Cheguei no trabalho e ouvi um silêncio suspeito.
Ali onde as ideias costumavam morar,
só havia eco.
— Alô? — gritei.
Nada.
Revirei as gavetas da mente,
procurei atrás das sinapses,
debrucei na janela da razão.
Cadê o danado?
Antes de sair de casa, ele estava animado:
citava Sócrates enquanto passava manteiga no pão.
E agora? Sumiu.
Fugiu com a criatividade e o bom senso
sem deixar nem bilhete.
A chefe pergunta:
“Você viu o relatório?”
Eu vi sim — ele nadando no mar da procrastinação
com boias de memes e estatísticas sem fonte.
Colegas cochicham:
“Ela não está rendendo...”
Mas como render sem processador?
Estou funcionando no modo batata frita:
quente por fora, oca por dentro.
Se você o encontrar,
meu cérebro é tímido, gosta de metáforas,
tem preguiça de planilhas
e alergia a reuniões de alinhamento.
Por favor,
diga a ele que não guardo mágoas...
só preciso que ele volte até sexta.
Tem entrega.