Luana Santahelena

Procura-se: Um Cérebro em Fuga

Cheguei no trabalho e ouvi um silêncio suspeito.

Ali onde as ideias costumavam morar,

só havia eco.

— Alô? — gritei.

Nada.

 

Revirei as gavetas da mente,

procurei atrás das sinapses,

debrucei na janela da razão.

Cadê o danado?

 

Antes de sair de casa, ele estava animado:

citava Sócrates enquanto passava manteiga no pão.

E agora? Sumiu.

Fugiu com a criatividade e o bom senso

sem deixar nem bilhete.

 

A chefe pergunta:

“Você viu o relatório?”

Eu vi sim — ele nadando no mar da procrastinação

com boias de memes e estatísticas sem fonte.

 

Colegas cochicham:

“Ela não está rendendo...”

Mas como render sem processador?

Estou funcionando no modo batata frita:

quente por fora, oca por dentro.

 

Se você o encontrar,

meu cérebro é tímido, gosta de metáforas,

tem preguiça de planilhas

e alergia a reuniões de alinhamento.

 

Por favor,

diga a ele que não guardo mágoas...

só preciso que ele volte até sexta.

Tem entrega.