Quantas manhãs você foi apenas um rascunho de si mesma,
um corpo sob os lençóis,
à espera de um milagre que não batesse à porta,
Quantas noites sua mente foi um labirinto de facas,
até que o cansaço lhe devorasse as pupilas
e você dormisse como quem desmaia?
A ruminação é um círculo sem saída,
o cérebro mastigando o mesmo veneno,
enquanto o corpo, animal sábio e programado,
pede hibernação
[ fuga ou cura?]
Quantas vezes você se observou de longe,
como quem lê um livro maçante,
e desejou rasgar as páginas,
reescrever a personagem principal?
O desejo de não ser é mais antigo que você.
É a sombra que insiste em ser vista, mas que transformamos em casa
E o subsolo até que é confortável...
Mas às vezes a asfixia vem de dentro.
Se tornando uma repetição de um circuito fechado.
E de repente meu cérebro se tornou um museu de hábitos fossilizados.
Até meu organismo sabe que a letargia prolongada é um suicídio a prestações
Um estalo e você acorda da hipinose que você mesmo adentrou...
E percebe que o desespero também cansa.
A inércia também dói.
E há uma vida lá fora
que não pede permissão para existir,
apenas avisa...
[Eu sigo, com ou sem você.]
Você se levanta.
Não como heroína, não como fênix
[Aquele velho caso bem clichê]
apenas como quem lembra, de repente,
que também é terra fértil, precisa de sol,
não da sua própria tempestade.
E o segredo não é parar de pensar.
É aprender a não obedecer
a todos os pensamentos.
Você, enfim respira.
O dia é novo.
E o tempo não espera ninguém,
mas também não cobra dívidas de quem resolve enfim voltar a caminhar.