Com um toco de giz ou um carvão do muro,
riscava-se o céu num pedaço escuro.
Era só um traço, quadrado a quadrado,
mas virava portal pra um mundo encantado.
Um pé no um, depois outro no dois,
equilíbrio era lei — cair? Jamais depois.
No três, no quatro, no cinco, no seis,
pular era dança, riso em redemoinho, talvez.
O céu era o fim, o pouso sonhado,
onde a alma criança se achava alada.
Jogava-se a pedrinha com fé e cuidado,
pra cair no quadrado certo e encantado.
Tinha quem errava, voltava pro início,
e quem jurava que o chão era feitiço.
Girava o mundo num pé só, leve e rindo,
e a vida parecia sempre recomeçando.
Hoje, a calçada tá lisa, vazia...
mas juro que às vezes, em plena nostalgia,
me pego pulando — ao menos por dentro —
na amarelinha que mora no meu pensamento.
9 ago 2025 (11:15)