Minha filha,
Você me perguntou o que é esse tal de amor que dura,
que não se desfaz quando passa a novidade...
E eu te digo, do fundo do meu coração marcado pelo tempo:
Amor, minha filha, amor de verdade...
não é coisa de novela,
nem esses enfeites bonitos de cartão de loja.
Amor bom mesmo é como massa de pão —
a gente amassa, espera crescer,
depois leva ao forno com calma...
e cuida para não queimar.
Ele está no café que ele faz pra você,
do jeitinho que você gosta.
Está na toalha estendida, no bilhete deixado na geladeira:
“Cuide de você por mim.”
Amor é aquele silêncio confortável,
quando já não há mais o que dizer,
mas o coração ainda sabe ouvir.
É ele lembrar do seu remédio sem que ninguém peça,
é você costurar a camisa dele com linha que combine.
É dividir a vida,
na alegria e na conta de luz.
O amor verdadeiro, minha filha,
não tem luxo.
Mas tem presença.
Tem mão dada na hora do medo,
tem riso leve no fim da tarde,
tem quintal, tem panela,
e tem perdão.
Cuide bem do seu amor.
Como quem cuida da horta no fundo do quintal:
um pouco a cada dia,
nem demais, nem de menos.
Porque o amor, se for plantado com paciência,
dá flor...
e cria raiz.
Com a ternura de quem já viveu muito,
Sezar Kosta