Luana Santahelena

Modo Despirocada: Iniciar...

Na sexta-feira às 18h03,

meu cérebro bate ponto

e deixa um bilhete:

“Volto segunda, talvez.”

 

Eu, então,

uma entidade sem CPF,

com batom torto e brilho nos olhos,

ativando o modo “paz interior é coisa de quem dorme cedo”,

me transmuto.

 

Sou agora uma filósofa de boteco,

musa das filas de banheiro feminino,

consultora sentimental de estranhas bêbadas —

“larga esse traste, amiga,

você merece um psicopata melhor.”

 

Me cubro de purpurina e impunidade,

danço como se a dignidade tivesse me bloqueado no WhatsApp,

gargalho alto,

como quem desafia o IBGE a me classificar.

 

Responsabilidade?

Deixei na portaria com o porteiro,

junto com o medo de parecer ridícula.

(Vou buscá-los na segunda, se me lembrar.)

 

Na balada, sou uma entidade mística:

a que pede tequila como se fosse chá,

a que filosofa sobre ex-namorados como se fossem dinossauros extintos,

e jura que \"esse look aqui tem nome: Renascimento.\"

 

O banco manda SMS:

“Seu saldo está negativo.”

Eu respondo:

“Quem não está, meu anjo?”

— e peço mais uma rodada no débito emocional.

 

A madrugada me carrega no colo,

descalça, descabelada,

mas plena,

como quem descobriu que a sanidade é superestimada

e que ninguém nunca escreveu um samba memorável

sobre pagar boletos em dia.

 

Sábado, me atraso até para existir.

Domingo, reviro selfies como quem tenta montar

um quebra-cabeça feito de versões minhas

que não assinaram contrato com o bom senso.

 

Mas sorrio.

Ah, como sorrio.

Porque nesse caos performático,

nessa libertação quase poética da lógica,

descubro que às vezes

ser “sem juízo”

é o único juízo possível

pra continuar sendo gente.

 

E se segunda me encontrar de pantufas,

tomando café com ressaca moral,

que saiba:

sobrevivi a mais um fim de semana

onde fui só minha,

louca, leve e solta —

feito confete em apoteose.

 

Fim do expediente,

início do espetáculo.