Sezar Kosta

ENTRE O SAL E O MEL (O SABOR DO AMOR)

Na casa da minha avó,

o cheiro do fogão a lenha

misturava manjericão com lembrança,

e o tempo parecia cozinhar mais devagar.

 

Ela dizia que o corpo escuta

o que a alma tem medo de dizer.

E servia o prato com um olhar terno,

como quem oferece paz em forma de sopa.

 

Lembro de um verão em que decidi jejuar —

não por fé, mas por vaidade.

Contava calorias como quem conta pecados,

fugindo de tudo que derretia, fritava ou adoçava.

 

“Você parece vazio”, ela disse,

não olhando meu prato,

mas meus olhos.

 

No dia seguinte, preparou um bolo de milho,

a massa amarela como o sol da roça.

Senti o aroma primeiro —

era infância me chamando pelo nome.

 

Comi. Devagar.

Cada pedaço como um retorno.

O açúcar era um sussurro, não um grito,

e a manteiga derretia sem pressa,

como perdão antigo.

 

Ali, entre o sal e o mel,

descobri que alimento não é inimigo,

nem confissão —

é um pacto com o viver.

 

Desde então, aprendi a escutar meu corpo

como quem ouve um velho amigo:

às vezes ele canta, às vezes silencia,

mas nunca mente.

 

Hoje, quando cozinho,

não sigo dietas —

sigo memórias.

E me sirvo de tudo que me nutre

sem pesar ou pressa,

como quem aprendeu que o amor também tem sabor.