R. Barbosa Gameiro

O Mendigo das Falas Soltas

O que importa aquilo que eu digo
Se eu não passo de um mendigo
Que vive às portas da razão
Pedindo esmolas de atenção?
 
As palavras de improviso
Podem ter um mau juízo
E gerar consequências:
Incorreções ou violências.
 
Falar à toa, sem saber 
O que se está mesmo a dizer,
É uma falta de decência.
 
Já só falarei apenas
Com as faculdades plenas
E com a voz da experiência.
 
Para expor algum assunto
Convém ter um bom conjunto
De ensaios ou de provas
Que suportem falas novas.
 
Não vá eu cair na falha
De cometer alguma gralha
Que ponha a verdade em perigo
E me cause algum castigo.
 
Como tal, eu cessarei
De falar do que não sei,
Evitando confusões.
 
Mas, só por si, \"saber fazer”,
Não chega p’ra estabelecer
Indiscutíveis conclusões.
 
Falta, então, consolidar
Ideias soltas pelo ar
E escrevê-las no papel
Ou desenhá-las num painel.

Chego assim a um bom preceito
Para um mundo mais perfeito,
Que é escrever o que fazemos
E só falar do que escrevemos.
 
No final, há solução
Para viver em evolução,
Sem ilusões nem enganos:
 
É conhecer o que se diz,
Já que a verdade é a matriz
Do progresso dos humanos.