Nasci do Barro
(Andrezzo)
Nasci do barro,
não pelo toque de um deus,
mas pela ausência de um homem.
Fui modelado na falta,
escorrido entre dedos que nunca me tocaram.
Meu nome
grito sem eco
na garganta da história.
Meu pai era um sopro oco,
vento sem promessa,
uma cadeira vazia na sala da infância
onde só o silêncio me fazia companhia.
Cada racha na minha alma de argila
é um “por quê?” que nunca voltou.
E ainda assim, permaneço
em pé, torto, mas firme,
como vaso antigo que aprendeu a conter-se.
Andrezzo, este que sou e não sou,
fala em mim nas noites fundas,
diz que há beleza no que falta,
que até o abandono tem sua estética.
Ele ri quando choro.
Ri porque sabe:
quem nasce do barro
tem raiz no esquecimento,
mas também pode virar templo.
E eu
órfão de um nome,
filho da ausência
me ergo,
poema por poema,
até virar homem
completo
na rachadura.