Versos Rasgados

O Elevador

23 horas

Décimo primeiro andar

O Elevador chega vazio

Cheiro de perfume 

 

No ar, nos botões

Bergamota e laranjeiras 

No espelho reflexos perdidos 

Sedução e desejo

 

Vigésimo segundo andar 

Não é meu destino 

Aqui flores e orvalho

 

Alguém entra

Trás em si jasmim 

O Elevador agora é jardim

 

Escolhe o andar

No espelho a observo

Olhar, maquiagem, pele dourada 

Veste lilás justo ao corpo

O Elevador agora é pintura 

 

O digital aponta meia-noite 

Um jazz melancólico irrompe

Abraça-se ao corpo 

 

Décimo andar

A porta abre-se 

Ninguém desce 

O Elevador agora é silêncio 

 

De súbito, para-se tudo

O relógio, a música, o movimento 

A luz neon tremula

Entrega-se e se apaga

O Elevador agora é breu

 

Acende-se um flash 

Invade a pupila, cega-me 

Vira-se, apresenta-a 

Em seus olhos, cor âmbar 

 

A luz volta tímida 

A música não retorna 

Chega somente em verso 

O Elevador agora é poesia

 

Sua mão convida à dança  

Forma-se um par

Encostam-se rostos

 

Corpos se entregam 

Jasmim, bergamota, suor

Lábios em chamas, fundem-se 

O Elevador agora é cúmplice, réu e juiz 

 

Abrem-se as portas

Sou céu azul profundo

Você, explosão de estrelas 

Juntos, Via Láctea 

 

O Elevador desce veloz

Rende-se ao tempo

Anos-luz, espera-nos no infinito