Anna Gonçalves

Amores de ferro e fumo

Os corpos se encostam, mas as almas têm frio,  

nos quartos de apps, no amor líquido e vazio.  

Beijos que são likes, paixões de Wi-Fi,  

ninguém ama ninguém, só o próprio vazio.  

 

Como já li uma frase em algum canto escondido

                         [Amai-vos mais!]

                         [Porque o inferno é estar só no muro!]

Mas hoje o inferno é scroll, é não ser visto,  

é trocar a alma por um story triste. 

Aos pecadores modernos!

Vocês, diletos egoístas, são todos Raskólnikovs, mas sem culpa nos  punhos.  

Matastes o amor e roubastes seu brilho,  

e agora mendigais afeto em  tweets antigos.  

Quem dera um Míchkin hoje, tão puro e tão louco,  

a amar sem filtros, a sangrar de amor louco!  

Mas não somos Stavróguins, um niilistas do tédio,  

a beijar bocas vazias no vazio do século. 

 

Aos homens do amanhã... 

                             [Se é que ainda há tempo]

rasgai os contratos, o amor não é cimento!  

Antes a dor de amar do que o vazio de existir,  

pois só quem ama sabe, de verdade o sofrer, permanecer e insistir...