Arlindo Nogueira

TRANSLINEAR I

Há sombra do candor voando só

Pelas dunas movediças do oceano

Tal qual a solidão do ser humano

Que queima feito o tição em brasa

Na página do tempo qual se grava

Os riscos e rabiscos de toda a vida

São espaços pelo construto da lida

Imagens valem mais que palavras

 

São cenas na linha da translineação

Define-se paradigma modelo do ser

Que usa o destino na lupa do saber

Qual um barco que à deriva flutua

Há na proa de cortiça imagem nua

Da sereia mística que no mar canta

Que sobre ondas sua magia encanta

Tiritando na noite no clarão da Lua

 

Transvasa gotas de orvalho no chão

E emerge o botão da flor perfumada

Tal qual os beijos da mulher amada

Que se conecta com os ciclos da lua

Com seus encantos ela atrai o amor

Na insaciável plenitude do beija-flor

Num estilo sensual deixa a perna nua

 

A vida é o tempo dividido em palavras

Uma palavra entre o final de uma linha

E o começo do texto pela seguinte linha

Seguindo regras de divisão para cortar

São riscos e rabiscos de toda uma vida 

Que se conectam entre as páginas lidas

Nos textos manuscritos com translinear