Versos Discretos

Os Dedos de VĂȘnus

Um dedo — fina cortesia do amante —
A salamandra que roça, reverente, a entrada oculta,
Como o hálito morno sobre mármore vivo,
Solicita licença ao altar secreto das delícias.

Dois dedos — mensageiros da volúpia —
Dançam no limiar com cerimônia e desejo,
Comungam do néctar que escorre entre espasmos,
E desenham promessas nas paredes do templo tenso.

A flor pulsa, apertada, como se rezasse em silêncio,
Como se o gozo fosse um segredo sagrado demais para ser rasgado.
E mesmo sem expandir-se além da oferenda de dois,
Ela se abre inteira, vertendo luxúria em ondas pequenas e molhadas.

Pois não é a quantidade que sacia,
Mas o saber onde tocar, como tocar,
E por quanto tempo deixar que a alma escorra
Por entre os dedos que conhecem os caminhos da luz.