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Sou um rato encantado, um servo infernal,
com bigodes torcidos e riso imoral.
Vejo tudo do alto das telhas quebradas,
os humanos? Um circo de almas penadas!
“Socorro, é a peste!”, eles gritam no chão,
mas ontem tavam nus dançando no porão!
Com vinho, pecado, suor e orgia —
depois querem cura em Ave Maria!
Correm atrás da bruxa da aldeia,
“Me dá um feitiço!” — com voz que cambaleia.
Mas ontem a chamavam de filha do cão,
hoje querem chá pra salvar o pulmão.
O padre benze com as mãos trêmulas,
mas a cruz já tá cheia de pústulas.
E eu, do telhado, quase me engasgo
de tanto rir do teatro macabro!
“Coma alho! Queime sálvia! Pendure um sapo!”
Enquanto o defunto já fede no saco.
Passam perfume, fecham as janelas,
mas esquecem que a peste mora entre elas.
Tem quem beije o chão, quem lamba madeira,
quem passe a bunda na água da ribeira.
E ainda diz: “Foi Deus que mandou!”
Não, querido... fui eu quem soprou!
E a bruxa só observa, calada e serena,
costurando bonecos, bordando a cena.
Enquanto eu, seu fiel, rolo de rir
com esses humanos tentando fingir...
Que controlam a vida, o amor, a doença —
mas vivem na beira da própria sentença!
Então, enquanto eles gritam por salvação,
eu danço nos ossos com satisfação.