Queria pedir perdão,
como quem pede açúcar emprestado
na casa da vizinha.
Queria vestir a roupa da vítima,
mas minha alma tem o cheiro
do café fresco da manhã.
Queria ser tua e de tantos,
mas o coração é pão caseiro,
só cresce no calor da tua mão.
Queria te iludir com elogios,
mas minha palavra é farinha,
não se mistura com mentira.
Queria guardar segredos
no pote de barro,
mas eles vazam
pelos olhos e pelo pão partido
Sou dependente,
feito doce de leite no fogo lento,
dessa paixão que não se desfaz,
mesmo quando a noite demora
e a saudade queima.