Igor Ocon

O Casulo e os Finais de Semana

Aos finais de semana,

o coração abre sem eu pedir.

Vem a saudade, culpa por não ser \"mais\",

vem a vontade de desafiar o mundo todo pra ser, ao menos uma vez, do meu jeito,

e junto vem a vontade de sumir.

 

E a única coisa que eu queria que viesse...

não vem (você). 

 

Pra quem sente demais como eu,

desaprender a amar

dói mais

do que amar demais.

 

O peito enche,

transborda a vontade de gritar:

\"Eu te amo!\"

\"Eu sinto a sua falta!\"

 

Sinto falta da sua presença física,

do seu cheiro,

da sua voz em qualquer situação,

das risadas espontâneas,

do tom autoritário

de quem quer controlar tudo ao redor pra se sentir seguro.

E então — um gesto, um carinho,

um cuidado.

Era isso.

É isso.

 

Não é só saudade de conversar,

porque a gente conversa.

Não é carência,

porque eu sei viver sem você.

Fiz isso a vida inteira.

 

É escolha.

É o luxo de me permitir escolher

o que me faz feliz.

 

Nem precisaria de conversas profundas

(apesar de eu amar),

só estar ali, pertinho,

já faz tudo ficar melhor:

um hot-dog numa praça

com estátuas duvidosas,

um restaurante qualquer,

ou uma laje,

com salgadinho e vinho barato.

 

É o momento.

Ou era pra ser.

Ou será.

Talvez.

 

Mas o momento, agora,

é de silêncio.

 

De pegar essa vontade de gritar,

essa saudade que dói,

esse incômodo

de mais um final de semana

sem poder escolher estar com você...

e gritar —

mas com o travesseiro,

abafando o som

daquilo que em mim transborda.

 

Porque esse grito é real.

Mas sei que,

entre as milhares de vozes

que te buscam todos os dias,

a minha é fraca,

sem graça,

e não alcança seu coração.

 

E então,

a culpa volta.

De novo.

Por não ser \"mais\",

mesmo sabendo que eu já sou o suficiente.

 

Vem a vontade de te dizer,

mais uma vez:

\"Eu te amo.\"

\"Sinto sua falta.\"

Sem medo de você sumir.

 

Mas aí eu lembro...

da promessa.

De tentar a metamorfose.

 

E volto.

Pro meu casulo.

Dessa vez, de espinhos.

 

E ali,

espero.

 

Que você deixe o medo de lado e me permita.

Ou que eu mude o que sinto.

Ou que isso sangre,

até morrer.