nonato da cruz

luta pela vida( a história de valente)

 

  

     

 

 

O ano era dois mil e dois, outono, tarde fria e chuvosa, meados do mês de março, a noite se aproximava com as primeiras penumbras sob o manto do crepúsculo vespertino. Uma quietude pairava sobre o ar frio que envolvia a todos naquele dia.

Quando ao longe, ouve-se um gemido incessante e agonizante, vindo lá dos campos ermos, daquela localidade, onde morava João com sua esposa Maria e seu filho José.

João chegava de seu trabalho diário e sentou-se em um degrau da pequena escada que dava acesso à porta de entrada de sua casa.

Ficou ali por alguns instantes até que ouviu aquele lamento, como se fosse o choro fino e triste de uma criança.

Levantou-se e pôs-se a procurar, lançando olhares na direção daquele lugar coberto pela vegetação típica de cerrado, com seus arbustos densos e fechados.

A chuva fina dera uma trégua , mas o mato ainda estava todo molhado com seus galhos e folhas cheios da água da chuva.

João olhou por onde poderia entrar com mais facilidade, e por uma pequena abertura, entrou mato a dentro desviando-se aqui e ali, quando de repente, em uma clareira naquela densa vegetação, avistou uma cena que o comoveu profundamente.

 

Estava ali diante dele um filhote de cão, tão frágil e indefeso, preso por um capim-cipó que se enroscou numa de suas patinhas traseiras.

João se aproximou e viu que a patinha já estava toda roxa e muito inchada pelo arrochar do capim-cipó. Agachou-se, e com muita paciência e cuidado, arrancou aquele empecilho livrando-o daquele sofrimento.

Quando João olhou atentamente para o filhote, notou que o sofrimento daquele ser estava ainda longe de se findar. Viu que pela imobilidade que o prendera ali e sem poder se defender, as moscas varejeiras com seus instintos cruéis, já o havia mordido por todos os lados, depositando pequenas larvas, que aos poucos se transformaram em bichos que grudavam em seu corpo e penetravam em várias partes: narinas, olhos ( que nem se abrira direito ), e até em suas partes traseiras.

João ficou aterrorizado e comovido diante daquela situação!

Num primeiro momento, devido ao grande sofrimento que passava aquela criatura, seu primeiro pensamento foi matar logo aquele pequeno ser.

João ficou pensando no que tivera acontecido, para mãe daquele filhote ter abandonado-o, deixando ele para trás. João olhou pro céu, e um pedido em forma de oração fez a Deus;

“Senhor de infinita bondade, criador de tudo quanto há, ajudai-me a salvar essa criatura”...

 

E abaixando-se, pegou-o com todo cuidado e ali mesmo  tirou alguns bichos que  estavam por todo o corpo do indefeso filhote.

Não tinha um lugar, um cantinho onde não tivesse aglomerados daquelas criaturas asquerosas e nojentas a ferroar sua pele.

Cuidadosamente tomou-o em seus braços enlaçando-o com carinho e o conduziu dali pra fora.

Chegando em casa, preparou em um cantinho, assim no cimentado do terreiro e pediu pra Maria ir aquecendo bastante água e pediu a seu filho José que lhe trouxesse um pente.

E, com cuidado, jogava água morna naquele pequeno e trêmulo corpinho e passava o pente bem lentamente de cima para baixo, retirando os bichos.

Demorou ali um bom tempo aquela faxina.

Então seu filho disse;  Pai, se ele se salvar, vamos chamá-lo de Valente.

Confesso que naquele instante, por estar tão envolvido com aquele pequenino ser, meus olhos se encheram de lágrimas, tamanho era a emoção que tomava conta de todos nós.

Pegou uma toalha de rosto e o enxugou, e com uma pequena e velha blusa de lã, que nos tempos de bebê aqueceu o corpo de José, agasalhou o pequeno Valente, higienizou um pequeno frasco de novalgina, aqueceu de leve um pouco de leite, encheu, e espremeu bem cuidadosamente em sua boquinha, que sugava com dificuldades aquele alimento.

Mas Valente ainda continuava a chorar.

 

Foi então que João notou que pelas narinas e olhos de Valente, ainda tinha muitos bichos a evadir.

Com um algodão envolvido num palito, abriu bem os olhinhos do animal e retirou aqueles bichos que ainda o incomodavam.

Aos poucos Valente foi se acalmando, mas ainda tinha algo de errado, porque ele ainda soluçava baixinho a sofrer.

Examinou por todos os lados e notou que de sua parte traseira, saíam alguns daqueles bichos.

Foi passando a mão num massagear mais firme por sua barriguinha e os bichos ainda saíam aos montes de dentro dele pela parte de trás.

Fez aquele movimento repetidas vezes, até que Valente se acalmou de vez, e docemente adormeceu.

Aquele pequeno frasco serviu de mamadeira por mais uns dias, e valente, aos poucos foi reagindo. Agora já tomava o leite na tampa de uma vasilha de manteiga, e continuou crescendo. Valente agora tem sessenta dias e já toma o leite na própria vasilha.

João, certo dia, ao passar por um local, notou que ali, onde forma um barranco na beira da estradinha, foi cavado um buraco e uma cadela ali se abrigou com três filhotes. Foi então que deduziu que aquela devia ser a Mãe de Valente, que pariu  naquele mato, e para não correr o risco de seus filhotes morrerem na chuva, carregou um a um, para aquele pequeno abrigo que ela conseguiu fazer a beira da estrada, e quando chegou a vez de Valente ela não conseguiu arrastá-lo, por estar preso naquele capim-cipó, e ela o abandonou pois não

 

podia desamparar os outros três filhotes que já estavam lá a sua espera.

João chorou muito, e agradeceu a Deus, por ter tão grande Amor por toda a criação, e compreendeu toda a situação.

 

…voltando então ao valente.

Valente agora  tem quase um ano, grande , inteligente, pêlo amarelado e muito ativo.

João, Maria e José, estavam muito felizes por ter Valente fazendo parte da família.

Mas, não sei se cachorro também tem sina, só sei que Valente então, passou por mais uma provação em sua vida. Dessa vez uma doença por nome de (pelada), tomou conta de todo o pêlo dele. Começou com uma pequena ferida, que aos poucos tomou conta de boa parte de seu corpo, queimando todo seu pêlo, e novamente lhe causando terrível sofrimento e dor.

Coçava muito, e com o esfregar das patas pelo seu corpo, provocava até sangramento.

A cara de valente ficou toda queimada das feridas que sem dó, aquela micose abriu.

Aos poucos sentíamos que por mais que valente lutasse pra sobreviver, não teria solução dessa vez, ele sofria muito, chorava muito, (ele e nós), o que fazer?

Então, com as poucas economias que tinha, João comprou um medicamento que o rapaz da agropecuária recomendou, um medicamento esbranquiçado, que misturado na água, tinha uma reação química e ficava parecido com um leite, que

 

João passou pelo corpo de valente com as próprias mãos.

Por três dias aplicou aquele produto no corpo de valente, que com muita bravura, resistia a mais aquele infortúnio em sua vida.

João notou que após mais uns dias, as feridas começaram a secar, e os pêlos voltaram a nascer aos poucos, na medida em que as feridas iam secando.

Secou todas as feridas de seu corpo, e o pêlo de valente agora, estava ainda mais cheio, com uma cor mais viva, apesar de ser um vira-lata, quem o via achava então que era um BORDER-COLLIE.

Com a cicatrização daquelas feridas, ficou estampado em seu rosto uma mancha branca, que pegava das orelhas até a ponta do nariz, e valente mais uma vez superou uma adversidade com muita resistência, fazendo jus ao nome que recebeu de José; “Valente”.

     

 

Valente passou bons anos ali com aquela família, Crescendo junto com José, e vivendo grandes aventuras.