Sezar Kosta

A CORAGEM DE SENTIR

Houve um tempo em que caminhei com os olhos fechados —

não por falta de luz,

mas por medo do espelho que cada claridade se tornava.

 

Aprendi a desconfiar dos encontros,

como quem teme a flor no deserto por achar que é miragem.

O amor, para mim, era uma lenda contada por corações cansados,

ao redor da fogueira da solidão.

 

Mas os sinais estavam por toda parte:

um silêncio que abraçava,

um gesto que não pedia explicação,

uma ausência que pesava mais que qualquer presença.

 

Ainda assim, eu fingia não escutar.

O mundo me ensinou a vestir espinhos,

a chamar de fraqueza aquilo que era só desejo de ternura.

 

Até que veio o vento.

Não o que sopra folhas,

mas o que levanta véus.

 

Nesse instante —

como quem se encontra após mil desencontros —

senti algo antigo reacender:

um fogo que não queima,

mas ilumina de dentro.

 

Descobri que o impossível

era apenas um nome com medo de sentir.

 

E que o amor é uma língua falada pelo corpo em silêncio —

uma oração disfarçada de batida do coração.

 

A vida deixou de ser espera

e virou travessia.

 

Não mais um deserto,

mas uma sede saciada pelo risco de acreditar.

 

Hoje, carrego no peito

não a armadura —

mas o sagrado da entrega.

 

E sei:

todo aquele que se permite amar

desperta a magia adormecida em si.

 

Porque o coração, quando confia,

inventa pontes sobre os abismos.