Seis lados na palma da mão,
seis futuros em suspensão.
Em cada face, um número, um portal,
uma verdade momentânea, nunca total.
A cada lançamento, um giro breve,
a sorte em queda, ágil e leve.
Um valor se revela, nítido e só,
enquanto outros dormem sob o pó.
Assim é a vida, em seu fluxo constante,
nenhuma certeza permanece adiante.
O mundo, com suas dobras e matizes,
revela a cada olhar novas cicatrizes,
novas belezas a se explorar.
Um lance: vejo um parque sob o sol.
Outro: a fita cinzenta de um farol
na estrada deserta. E ao jogar de novo,
as folhas daquele parque tecem um mundo novo.
Cuidado, o dado vicia a mão e a mente,
quando insiste na mesma face, de repente.
Um lado para a sorte, outro para o revés,
a geometria fria da insensatez.
Pois o dado da vida não possui arbítrio,
é feito de osso, resina, tempo e delírio.
Ele não escolhe. Ele apenas cai.
E a face que nos encara, é a vida que se vai.
Então, o que é mentira? O que é real?
Se tudo e nada coexistem no final?
A escolha não é nossa, mas do gesto incerto
que lança o dado neste imenso deserto.