não sei quando
a dor aprendeu a andar comigo —
sem fazer barulho
sem pedir desculpas.
a saudade,
essa pedra que respira sob a pele,
me olha pelos cantos
e não se vai.
quis te esculpir com o tempo,
mas o tempo tem mãos frias.
então, risco tua ausência
na superfície do ar
como quem escreve com fumaça.
teus passos?
ruídos que se repetem no escuro
de uma rua que só existe em mim.
sou errância pura,
sombra de algo que não volta,
mas insiste.
te percebo —
não em constelações nem milagres,
mas no buraco que tua presença deixou
onde o tempo dobra,
e o amor se recusa a apagar.
não há fim.
há um poema que insiste,
palavra por palavra,
em te lembrar
até que tudo se cale —
menos eu.