Sezar Kosta

O PESO DA AUSÊNCIA

não sei quando

a dor aprendeu a andar comigo —

sem fazer barulho

sem pedir desculpas.

 

a saudade,

essa pedra que respira sob a pele,

me olha pelos cantos

e não se vai.

 

quis te esculpir com o tempo,

mas o tempo tem mãos frias.

então, risco tua ausência

na superfície do ar

como quem escreve com fumaça.

 

teus passos?

ruídos que se repetem no escuro

de uma rua que só existe em mim.

sou errância pura,

sombra de algo que não volta,

mas insiste.

 

te percebo —

não em constelações nem milagres,

mas no buraco que tua presença deixou

onde o tempo dobra,

e o amor se recusa a apagar.

 

não há fim.

há um poema que insiste,

palavra por palavra,

em te lembrar

até que tudo se cale —

menos eu.