Anna Gonçalves

Tudo menos eterno. (transformação)

Ainda acredito no poder das mãos que não cansam,  
que moldam o barro, mas não o despedaçam.  
Que lavam a louça, consertam o rasgo,  
que não trocam o velho, só limpam o lasco.  

O mundo se tornou um mercado de coisas breves,  
amores com prazo, descartáveis e sempre leves.  
Vestidos que duram só uma estação e exposição,  
e afetos que morrem sem explicação.  

Quem sabe conserta um amor rachado?  
Quem cola os cacos de uma xícara quebrada?  
Quem rega a planta que o tempo secou?  
Quem fica quando o novo chegou?

Difícil é ter paciência e suor,  
reformar a rachadura, não jogar fora.  
O fácil é sempre trocar, nunca ver,  
comprar outro corpo, outro lar, outro ser.     Sem ao menos reformar, reutilizar...

E tem um segredo que o lixo não conta.
O novo de hoje é o velho da monta.  
E tudo que some nessa necessidade do \"já\"  
vira o mesmo lixo que um dia virás.

Pois até você, um dia, será
mais uma coisa que alguém jogará.            Sem ao menos tentar e acreditar no poder da reforma, que sempre transforma.