Ainda acredito no poder das mãos que não cansam,
que moldam o barro, mas não o despedaçam.
Que lavam a louça, consertam o rasgo,
que não trocam o velho, só limpam o lasco.
O mundo se tornou um mercado de coisas breves,
amores com prazo, descartáveis e sempre leves.
Vestidos que duram só uma estação e exposição,
e afetos que morrem sem explicação.
Quem sabe conserta um amor rachado?
Quem cola os cacos de uma xícara quebrada?
Quem rega a planta que o tempo secou?
Quem fica quando o novo chegou?
Difícil é ter paciência e suor,
reformar a rachadura, não jogar fora.
O fácil é sempre trocar, nunca ver,
comprar outro corpo, outro lar, outro ser. Sem ao menos reformar, reutilizar...
E tem um segredo que o lixo não conta.
O novo de hoje é o velho da monta.
E tudo que some nessa necessidade do \"já\"
vira o mesmo lixo que um dia virás.
Pois até você, um dia, será
mais uma coisa que alguém jogará. Sem ao menos tentar e acreditar no poder da reforma, que sempre transforma.