Wander Motta

céu de ícaro, asas de fernão

 

voar
    é verbo
      que arde

  voar
    não é só
      chegar

  voar
    é sonho
      que parte
        da alma
          pra não
            voltar

  ícaro...
    fogo no peito
      sol no olhar
        asas de cera
          destino no ar

  e mesmo
    caindo
        tão belo
    cantou
      o impossível
        com um gesto
          singelo

  fernão...
    gaivota
      que nega o cardume
    busca no voo
      seu próprio
        perfume

  não voa por pão
    nem por abrigo
  voa por dentro
    do que é consigo

    voar...
      não cabe
        no chão

    voar...
      é escolha
        é não

    voar...
      é rasgar
        o limite
      com pena,
        coragem,
          vertigem
            e grito

  e o céu...
    o céu que galileu
      mediu
    não guarda
      o que ícaro
        sentiu

  nem sabe
    do traço
      que fernão
        deixou
      ao cortar o vento
        com amor e dor

  há mais poesia
    no voo perdido
      que na órbita certa

  há mais beleza
    na asa que erra
      que na lente que acerta

  e entre a ciência
      e a paixão
  fica o homem:
    metade cálculo
      metade canção...