Hans

Diário de uma vida em preto e branco

É real? Ou seria apenas mais um delírio vestido de madrugada?

Não prego os olhos. A noite, esta velha conhecida de silêncios incômodos, sussurra em minha mente pensamentos que se atropelam como sombras em desespero. A cada fração de segundo, uma nova inquietação se instala — “Por que não sou capaz de manter alguém ao meu lado?” “Preciso comprar roupas… preciso resolver a vida…” Mas como, se até o ar me pesa?

Sinto-me consumida por algo que não sei nomear. Uma irritação lateja em meu peito, como uma ferida mal cicatrizada. Há um fogo em meu corpo — desejo sem direção — mas o coração… ah, o coração é uma casa vazia, ecoando promessas esquecidas.

É tudo tanto.

É tudo demais.

Penso, penso, penso… Mas não escrevo. Há palavras que morrem antes de nascer. Há medos, visões, fantasias, expectativas que se entrelaçam como fios de um novelo maldito. Pergunto-me incessantemente: por quê? Para quê?

Suplico em silêncio: deixa-me ser livre!

Não suporto mais estas amarras invisíveis, estas correntes que me prendem ao invisível. Quero voltar a me encantar pelas páginas de um livro, a me perder em histórias alheias. Mas até escolher um filme me cansa — uma hora diante da tela, e tudo o que sinto é exaustão.

Quero sair. Beber. Embriagar-me até esquecer de mim. Dançar com meus fantasmas numa noite só.

Quero fugir. Ver o mar pela primeira vez e deitar meu corpo na nudez da terra. Entregar-me a alguém cujo nome desconheço, como se esse alguém pudesse curar o que nem sei onde dói.

Desejo arrumar minha vida, mas tropeço nas roupas espalhadas pelo chão do quarto. Tento me encontrar, mas tudo em mim é desencontro.

Tenho medo da morte.

Medo de não ser feliz.

Medo de enlouquecer.

Às vezes, sinto que o surto me ronda — sussurra em meu ouvido como uma amiga antiga. Tenho devaneios em lugares cheios, e nesses instantes sou uma estranha entre os homens. Isso… isso não pode ser real.

Respiro. Tento voltar. O mundo insiste em me chamar de volta: o ar, a brisa, um ruído qualquer...

Mais um suspiro.

Mais uma tentativa.

Respiro e volto à vida.

Ou ao que restou dela.