Nasci sem colo, sem nome falado,
ninguém me esperava no quarto aceso.
Fui crescendo no canto calado,
com fome de um gesto, de um beijo,
com medo de tudo o que é começo.
Não tive um pai que me olhasse inteiro,
nem mãe pra contar do mundo bonito.
O mundo me deu só o travesseiro,
um silêncio doído, infinito,
e a falta que nunca teve um grito.
Fiz de mim o que deu, sem espelho,
sem ninguém pra me ver nos meus dias.
Aprendi a sorrir com defeito,
a fingir que as noites vazias
eram só um jeito de ser direito.
O amor? passou — não ficou comigo.
Me quis um pouco, depois desistiu.
Fiquei com o quase, sem abrigo,
com um coração que nunca se viu
num outro peito, num outro fio.
E agora, de maior, sigo à toa,
sem um “filho”, um “meu bem”, um “vem cá”.
Só eu, minha sombra que não perdoa,
e esse vazio que sempre está
no lugar de quem nunca virá.
18 jul 2025 (10:52)