Quem mata o poeta
Tem sangue nas mãos
Sangue azul de tinta
Sangue de escrita
Escorrendo pro céu
Quem mata o poeta
Assassina o verso
Interrompe o destino
Enlouquece a razão
Mata os \"Severinos\"
Encontra o \"José \"
Da sua perdição
Se morre o poeta
O \"mar português\"
Já não tem mais perigos
E a alma fica pequena
Morre Camões
Morre Pessoa
E milhões de pessoas
E as que nasceriam
Também morreriam
Meta a faca no poeta
E um monte de preces
Jorraria no escuro
Inúteis orações
Que não teriam ouvidos
Atire no poeta
E Mate os pássaros
Que voam nos ceus
E mate as flores
Que Iluminam jardins
Acabe com o néctar
Que vinha do folhetim
O poeta poetinha
Morreria no túmulo
Não haveria de ter
\"Operario\" que o defendesse
E o amor seria mortal
\" Posto que não seria chama\"
Se Morre o poeta
\'Romeu e Julieta\"
Morreriam de causas naturais
A morte do poeta
É a morte da morte
Antes da vida
Morte ao inverso
Do livre protesto
Insesto de rimas irmãs
Que gestariam
Os versos iguais
Para o construir o tão sonhado
Mundo cinza
Corta a carne do poeta
E mate a letra
Tira a vida
Da beleza
Interrompa o sonho do menino
Que rabisca o arco-íris
Assassine o poeta
Tira a pena de sua mão
E terás pena de bandido
Virá sobre ti a sentença
Que por livrar o mundo da esperança:
Mil anos de solidão
Antonio Olívio