Odalila Sousa

O SilĂȘncio Que Me Moldou

Eu não sei se é uma forma de me confessar ou de falar coisas sem sentido, mas espero que entenda...

Eu comecei a gostar da coisa que sugou o resto de amor que eu tinha pela vida. Depois disso, eu só fui descendo ladeira abaixo. Foram tantos momentos que se tornaram pico e, ao mesmo tempo, o poço de tudo: uma desilusão aqui, outra ali. E eu fui sofrendo sem ninguém perceber, até que, um dia, a minha irmã percebeu. E, meio que, me prometi fazer com que ninguém soubesse quando eu estava sofrendo ou não. Eu só guardei tudo pra mim, até me tornar isso.

É tão transparente sofrer... o vazio dentro de mim dá pra enxergar se olhar nos meus olhos.

Eu devo ter me tornado o que eu mais temia na vida: alguém que magoa quem só te quer bem.

Fui me acostumando e me tranquilizando com o silêncio, com o não contar o que estava acontecendo, com o não pedir ajuda. Eu só preferia me afastar e ficar a uma distância na qual a minha carcaça ainda estivesse presente.

Com isso, eu fui me fechando por dentro. E, quando aparecia alguém tentando olhar para dentro, ver minhas feridas e dizendo que iria curá-las, eu acreditava, só por pensar que, em algum momento da minha vida, eu seria igual às pessoas que transbordam felicidade.

Mas, com o tempo, as feridas foram se abrindo. Outras eram criadas. Desde então, eu até continuei aceitando o amor, mas já sabendo que ele seria apenas momentâneo. Que tudo iria passar. Que, de alguma forma, eu sairia perdendo, como das outras vezes.

Continuei saindo ferida, e com mais feridas. Até que eu quis parar de ser ferida... Mas eu também não queria ser ruim com os outros que só queriam ser amados. Então, apenas tentei dar a eles o amor que mereciam, sem querer nada em troca.

Eu quis apenas ser os traços ditos pela outra pessoa, só porque, ainda no fundo, eu acreditava que poderia ser muito amada, ser feliz, transbordar felicidade.

Mas, dessa vez, eu só continuei me moldando, sem parar. E, quando respirei por um momento e me vi no espelho, eu já não me reconhecia. Foi um momento pelo qual eu nunca mais queria passar...

Me recuperei, ou pelo menos achei que sim, e tentei mais algumas vezes. Mas acabei me abandonando novamente. Só por acreditar que seria amada de verdade. Que seria eu de verdade, dessa vez...

Mas nunca foi como eu planejei.

E, por fim, não está sendo como eu planejei. Eu quero demais me sentir bem, resolvida comigo mesma. Mas, pra isso, talvez eu deva parar um pouco...