Mano,
tô puta da vida, na moral —
não é drama, nem cena, é só o grito calado
de quem só queria almoçar com a mãe
e ouviu como resposta:
\"Ele é minha família\"
(e eu? sou o quê?)
Ontem foi isso.
Hoje?
Hoje foi prato, comida, copo —
pra todos, menos pra mim.
O refrigerante ali, me olhando
e a frase que me travou:
\"távamos esperando você pra servir.\"
PQP.
Virei garçom de uma casa que me ignora.
E no fim, ainda ouço:
\"aposto que a tananan vai ser a primeira a sair aos 18\"
como se me expulsar fosse uma bênção
como se eu fosse peso morto
enquanto o filho favorito
é só um idiota que ela vive xingando quando ele vira as costas.
E eu?
Engulo tudo.
O choro.
O cansaço.
A raiva.
A tristeza.
Ninguém vê.
Ninguém quer ver.
Psicóloga tenta entender e dizem que eu invento.
HIPÓCRITAS.
Tô com tanta raiva
que tenho medo de virar uma versão que nem eu reconheço.
Sinceramente, só queria paz.
Um canto.
Um silêncio.
Mas nem isso.
Ele era a última gota de compreensão
até eu perceber que é só mais um
que fala pelas costas
e repassa minhas dores como se fosse fofoca.
E mesmo assim
apoiei
acalmei
aceitei.
Pra agora ele tirar até a porra da TV de mim.
Minha irmã é legal
só quando convém.
Na dor alheia ela pula fora.
E meu irmão...
meu irmão é um lixo ambulante
que se acha o fodão
mas é só mais um covarde disfarçado de esperto.
Ninguém pergunta
por que como demais,
ou por que às vezes eu fujo da comida.
Por que meu corpo pesa
por que meu peito aperta
ou por que às vezes
me olhar no espelho é como encarar um monstro.
Tô exausta.
Os remédios não ajudam.
A insônia só ri da minha cara.
E quando finalmente durmo,
me sonho sendo cortada —
sem faca, sem gente,
só o vento me rasgando
em todos os lados.
E acordo.
E sorrio.
E digo “tá tudo bem.”
Mesmo sabendo que tô caminhando sobre cacos invisíveis.
É engraçado…
meu corpo grita por socorro de mil jeitos
mas só eu escuto.
E eu?
Eu não sei mais o que fazer por mim.
Então eu choro escondida
e finjo firmeza.
Porque é o que me resta.
Porque é o que esperam.
E porque, no fundo,
ninguém quer saber a verdade.