Antes de você,
Havia um silêncio pesado, mas sutil,
Como um relógio que gira sem ponteiros,
Um deserto que não sabe o que é sede.
Caminhei por ruas de sombras anônimas,
Onde cada rosto era um enigma partido,
Uma promessa que nunca se cumpriu.
As horas eram folhas que o vento esquecia,
Perdidas entre o ontem e o nunca.
Então você chegou.
Não como raio que rasga a noite,
Mas como um farol aceso no nevoeiro,
Um sopro que reacende a brasa adormecida.
Suas palavras eram ecos antigos,
Fragmentos de uma canção que eu já sabia
Antes mesmo de existir som.
Em seus olhos, o mapa de todos os caminhos.
Em seu sorriso, a chave de todas as portas.
O amor, porém, não é só luz.
É o espelho que não poupa rachaduras,
O peso de carregar outro coração
Dentro do seu.
Amar é despir-se de todas as máscaras,
E eu, nu, me vi pela primeira vez.
Hoje, o mundo ainda gira em desalinho,
Ainda há noites que se esquecem da lua.
Mas em mim, tudo encontrou seu lugar.
O que antes era silêncio,
Agora é música.
Se eu pudesse voltar,
Diria ao vazio que me habitava:
\"Espere.
Há uma luz que ainda não conhece.
E quando ela chegar,
Até o silêncio aprenderá a cantar.\"