Sezar Kosta

QUANDO O VAZIO EM MIM APRENDEU A CANTAR

Antes de você,

Havia um silêncio pesado, mas sutil,

Como um relógio que gira sem ponteiros,

Um deserto que não sabe o que é sede.

 

Caminhei por ruas de sombras anônimas,

Onde cada rosto era um enigma partido,

Uma promessa que nunca se cumpriu.

As horas eram folhas que o vento esquecia,

Perdidas entre o ontem e o nunca.

 

Então você chegou.

Não como raio que rasga a noite,

Mas como um farol aceso no nevoeiro,

Um sopro que reacende a brasa adormecida.

Suas palavras eram ecos antigos,

Fragmentos de uma canção que eu já sabia

Antes mesmo de existir som.

 

Em seus olhos, o mapa de todos os caminhos.

Em seu sorriso, a chave de todas as portas.

O amor, porém, não é só luz.

É o espelho que não poupa rachaduras,

O peso de carregar outro coração

Dentro do seu.

 

Amar é despir-se de todas as máscaras,

E eu, nu, me vi pela primeira vez.

 

Hoje, o mundo ainda gira em desalinho,

Ainda há noites que se esquecem da lua.

Mas em mim, tudo encontrou seu lugar.

O que antes era silêncio,

Agora é música.

 

Se eu pudesse voltar,

Diria ao vazio que me habitava:

\"Espere.

Há uma luz que ainda não conhece.

E quando ela chegar,

Até o silêncio aprenderá a cantar.\"