Carregamos o mundo nos passos, nas trilhas,
sem terra marcada, mas com alma que brilha.
Em cada olhar, suspeita e desdém,
como se viver livre fosse um pecado também.
Chamam de errante quem dança com o vento,
sem ver o orgulho, o saber, o talento.
Nos julgam por lendas, por medo, por cor,
esquecem que em nós pulsa o mesmo amor.
Pelas vielas, estradas e praças,
erguemos tendas, histórias e graças.
Mas querem calar a nossa canção,
com leis duras, com repressão.
Não somos lenda, nem superstição,
somos cultura, memória e nação.
Um povo sem guerra, mas com cicatriz,
por lutar o direito de ser e de dizer: feliz.
Resistimos com festa, com canto e com dança,
com a fé dos avós e a força da esperança.
Entre ferros e fogueiras, em toda estação,
defendemos com honra nossa tradição.
Somos muitos, em muitas línguas e tons,
de pele dourada, de nomes e sons.
Não queremos dó, nem compaixão,
só justiça, respeito e inclusão.
Ser cigano é viver com coragem no peito,
é ser livre, e mesmo assim, ser direito.
Nosso sangue é ponte, é estrada, é raiz,
e o mundo será mais justo quando nos ouvir feliz.
Que a roda gire, que o mundo aprenda,
que toda alma cigana é uma estrela que acenda.
E se a liberdade é o preço do caminho,
que sejamos firmes, mesmo sozinhos.
Porque no fundo da alma, o que todo Rrom quer
é ser visto inteiro — do jeito que é.