Marcelo Marques - Cig

Voz Cigana

Carregamos o mundo nos passos, nas trilhas,

sem terra marcada, mas com alma que brilha.

Em cada olhar, suspeita e desdém,

como se viver livre fosse um pecado também.

 

Chamam de errante quem dança com o vento,

sem ver o orgulho, o saber, o talento.

Nos julgam por lendas, por medo, por cor,

esquecem que em nós pulsa o mesmo amor.

 

Pelas vielas, estradas e praças,

erguemos tendas, histórias e graças.

Mas querem calar a nossa canção,

com leis duras, com repressão.

 

Não somos lenda, nem superstição,

somos cultura, memória e nação.

Um povo sem guerra, mas com cicatriz,

por lutar o direito de ser e de dizer: feliz.

 

Resistimos com festa, com canto e com dança,

com a fé dos avós e a força da esperança.

Entre ferros e fogueiras, em toda estação,

defendemos com honra nossa tradição.

 

Somos muitos, em muitas línguas e tons,

de pele dourada, de nomes e sons.

Não queremos dó, nem compaixão,

só justiça, respeito e inclusão.

 

Ser cigano é viver com coragem no peito,

é ser livre, e mesmo assim, ser direito.

Nosso sangue é ponte, é estrada, é raiz,

e o mundo será mais justo quando nos ouvir feliz.

 

Que a roda gire, que o mundo aprenda,

que toda alma cigana é uma estrela que acenda.

E se a liberdade é o preço do caminho,

que sejamos firmes, mesmo sozinhos.

 

Porque no fundo da alma, o que todo Rrom quer

é ser visto inteiro — do jeito que é.