Rodrigo Tonoli

O campo dos caminhos

 

O vento frio cortava como facas enferrujadas. Gotas pálidas caíam sobre a terra de crateras e trincheiras. Já não sentia minhas mãos dentro das luvas rasgadas.

Semienterrado na lama, ao meu lado, meu fuzil parecia morto.

Ao longe, um estampido abafado — talvez um morteiro, talvez um trovão. Já não distinguia.

Meus ouvidos zumbiam com o eco de gritos que não existiam mais. Tentei chamar a esperança, mas a voz sumiu antes de sair.

A língua grudava no céu da boca, seca como pó e o gosto de pólvora queimada.

Uma mancha se espalhava no casaco devagar, como tinta em água suja.

Quando me feri? Não lembrava.

Apenas a dor contra o céu de chumbo, e daquelas crianças — ou seriam sombras — correndo antes da explosão.

Os pensamentos formaram um som: \"Mãe.\"

O frio queimava agora, um ardor quieto nos pulmões.

Olhei as mãos, vermelho e desamparo sobre elas.

Um pássaro pousou na cerca de arame, inclinando a cabeça.

Estou morto? Perguntei, em silêncio.

O pássaro voou, levando consigo a resposta.                                                  (Wellington R Tonoli - 07/07/2025)