Irmão, vidas não são caras
Tem quem compre, tem quem venda, tem quem tem a degolação como ganha pão
Ninguém aqui tá são
Salvos, muito menos estão
Siga em frente, e nunca tenha seu destino em suas mãos
Custava tão pouco pra viver
Que quem tinha muito poder capital
Odiava nossa forma de espalhar saber
Mas quantos vão querer viver normal
Não faz mal
Quero entrar em livros de português e história, sem ser cabral
Que nem edi rock, negra li, emicida e marechal
Foi mal, você ainda não entendeu
Tudo bom, no começo quem não entendia era eu
Por quê que eu ia querer mudar esse mundo
Se grande parte do mundo que ando ainda não se fudeu?
É complicado, mas não tô bem só sendo cenário
Centenários milionários,
Sou caneta e papel
Antigos visionários, não viram assinatura da Isabel
É diário, racismo tá foda
Quem nem escreveu história teve-a apagada, a tiros de borracha
E a caneta, não é escopeta
Mas vou vingar as almas
Que morreram no mar, jogadas
Hoje eu tô com ódio
Mais um episódio
Em que atiraram de propósito
Passando na tv, todo mundo vê, mas é fácil ver:
Preconceito: pior lixo,
Brasil: maior depósito
Que puta culpa
Por ser quem eu sou:
Um cara branco classe média
Que facilmente ia virar doutor e se dar bem na vida
Mas conheci o rap
E não paro a rima
Pois tô bem de vida
Se eu rimo justo quando a batida vira
Mas é fácil falar do lugar que eu sou
Não sou oprimido
E ainda sou do exato tipo do opressor
Então, mesmo que digam que rimo bem, eu nunca sei o quão bom podia ser o cara do espaço que minha pessoa ocupou
Sinto nas costas um peso
De mais de 6 milhões de corpos,
Me esmagando a cada linha que eu vou canetando
E toda vez que eu lembro que a culpa não é exatamente minha, eu me culpo mais ainda por antes estar me culpando
Só tô me desculpando
Sou um cara branco
Mas o serenata sempre foi melhor que o ouro branco
As linhas vou esculpindo
Eu não mato rindo
Apocalipse:
\"Então que libertem os som dos tiros\"
E quando eu vou versando
Mato cada demônio que anda por onde não ando
Afinal, não sou santo
Minha rima não é comédia
Nem é divina,
Minha mente, minha vida
É um eterno IV canto