Versos Discretos

Liturgia da Fome

Quisera tocar-te com o rigor de um poema clássico,
medido em sílabas, contido em regras,
mas o desejo é bárbaro — e desmedido.
Ele me rompe os versos, me rasga o latim da alma.

És um sacramento que me nega a hóstia.
Vês minha fé ajoelhada em tua nudez imaginada
e não me dás nem o alívio de um beijo fictício.
Tua ausência, é um ritual erótico.

É liturgia de fome: 
meu corpo reza no idioma do suor,
minha carne jejua por tua pele,
minha alma treme por não saber
o gosto da tua.