Nas ruas vazias do fim da esperança,
só eu e o eco da minha lembrança,
um cachorro, um fuzil, alma em quebrança,
a cidade caída, sem mais confiança.
\"Eu Sou a Lenda\", mas lenda de quê?
De um mundo sem gente, sem fé, sem porquê.
Os monstros da noite sou eu sem você,
e a pergunta que grita: Deus foi esquecer?
Deus tá morto ou só calado demais?
Ou cansou de ouvir nossas guerras banais?
No rádio só estática, céu sem sinais,
e eu oro sozinho, num culto sem ais.
A ciência matou o que era sagrado,
um vírus levou tudo que foi jurado.
Mas no fim do caos, mesmo destroçado,
eu deixei a cura... meu sangue foi dado.
Ainda amamos Deus ou só quando dói?
Só quando a tragédia nos quebra e destrói?
Ou será que o mundo cansou do herói
e prefere um silêncio que nunca se foi?
Na parede um versículo meio rasgado,
na alma um medo que nunca é curado.
Mas mesmo perdido, caçado, isolado,
eu creio num fogo que nunca foi apagado.
Se Deus tá morto, por que chamo por Ele?
Por que minha dor ainda diz: “Não me esquele”?
Será que é loucura ou só fé que se vele
num mundo onde o amor virou papel que se fere?
Essa é minha prece, minha arma, meu grito,
um som que resiste num tempo maldito.
No escuro da rua, escrevo num grafito:
“Ainda amamos Deus… ou o deixamos pros mitos?”