sobrenome_poetico

Um jeito comum de se comunicar.

Ao lado de onde moro há uma vila de quartos que chamamos de kitnets.

O lugar é barulhento, mais do que qualquer outra casa por aqui.

Pelas paredes finas, ouço vozes que não pedem licença: gritos, ofensas, acusações. E, no meio disso tudo, crianças que só dividem o mesmo espaço… e carregam nas costas culpas que nunca foram suas.

 

Às vezes me pego pensando que talvez tudo isso venha de longe.

Como se fosse um eco antigo: fui criado assim, vou criar do mesmo jeito.

Mas será mesmo que precisa ser assim?

 

Observar me faz lembrar da minha própria criação, e também do incômodo de repetir algo que sempre me feriu.

Nessa vila, o ruído é linguagem. Mas no meu silêncio há vontade de mudança.

 

Outro dia, vi uma criança calar diante de um berro… e, no reflexo, outra estender a mão. Pequenos gestos, quase invisíveis, mas que quebram o ciclo, nem que seja por um instante.

 

Talvez não seja preciso gritar.

Talvez a transformação venha com uma escuta paciente, com uma nova forma de falar.

Talvez, só talvez, um jeito comum de se comunicar ainda possa ser reinventado.


Sobrenome_poetico.