Te deitas como quem quer silêncio,
mas teu corpo clama por versos.
E eu — mesmo ausente —
sou a pena que tua mão procura no escuro.
Tua pele é o papel que me implora.
Tua flor, a página mais íntima.
E teus dedos, trêmulos,
são minha mão guiada pela tua saudade.
Te tocas como quem transcreve memórias,
como quem desliza a caneta em caligrafia lenta,
saboreando cada linha que nasce entre os lábios,
cada gemido que escorre entre as palavras.
Meu falo, no teu pensamento, é poesia dura.
É a haste firme que te escreve por dentro,
riscando tua carne com desejo,
alargando teu verso mais apertado.
Quando tua respiração se quebra,
não é gozo — é ponto final.
E teu corpo, exausto e tinto,
é poema terminado… mas nunca encerrado.